segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

UFC: Panis et circenses (de novo?)



"Não tenhas inveja do homem violento, nem escolhas nenhum dos seus caminhos." (Provérbios 3 : 31)

Sei que meus amigos quererão me matar (trocadilho imperdoável, mas necessário) Porém é o que sinto pelo menos agora. Tenho um pressentimento estranho com relação a essa onda chamada MMA e seu canal de liberação regularizado: o UFC. Acho estranha a euforia das pessoas com relação aos lutadores. Acho bizarra a turba manifesta em posts nas redes sociais exaltando a carnificina proporcionada pelos lutadores. Muitas vezes as pessoas nem torcem para um lutador, mas torcem para o golpe, para o soco, para o chute, para o sangue. Venha de onde vier. Algo precisa ser exorcizado de dentro de cada um...uma conta vencida, um pagamento atrasado, uma calunia levantada, um chefe chato, um líder difícil. O sangue derramado tem aliviado as multidões como os Romanos eram distraídos na arena enquanto o sangue dos gladiadores era derramado, ou mesmo o sangue dos cristãos devorados pelos leões.

E por falar em Cristãos...

Acho temerário o sentimento que impulsiona a massa que se diz cristã e passa torcer frenéticamente por um lutador que levanta uma bandeira escrita “Jesus” ao fim da luta, como se o oponente do outro lado fosse menos amado por Deus que ele, ou como se o próprio fosse patrocinado por satanás, portanto deve ser derrotado pelo “ungido” de Deus. Honestamente isso me parece uma Jihad hipocritamente encoberta pela alcunha de competição.Jesus morreu por nós e nos amou, antes que nós respondêssemos a esse amor. Portanto, se o oponente não é cristão ainda, não significa que ele é um demônio a ser vencido. Seja ele um lutador de MMA ou um jogador de futebol.

"Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais." (Efésios 6 : 12)

O mais intolerável para mim é saber que na arquibancada do evento estão presentes muitas crianças, algumas que nem 10 anos tem ainda. Assistindo a um programa esportivo, vi quando a câmera deu um close numa criança devidamente paramentada com quimono, protetor bucal e imitando lutadores. Onde isso vai parar? Quer saber? Na escola amigo. Sem juiz, nem regras, e com um surpreendente resultado, esse sim demoníaco. Aquilo não é ambiente para criança. Uma criança não tem capacidade para contemplar uma cena daquela e deixar que ela fique lá. Uma criança não vai entender que existe uma disciplina, que as pessoas não são inimigas, que tem família, que aquilo é um ringue. Uma criança vai achar que todo lugar é um ringue e que todos podem ser considerados inimigos. Nem as torcidas de futebol conseguem, vamos querer que crianças assistam um espetáculo de sangue desses e saiam de lá incólumes, centrados? Não dá né amigo, o resultado não será de certo algo bom.

Não sou contra as artes marciais, muito pelo contrário, entrei num tatame pela primeira vez aos 11 anos de idade para conseguir ter uma melhor concentração na escola. Desde aquele tempo meus mestres tem me ensinado que arte marcial, ou é arte ou é guerra, mas nunca uma competição. A competição tem destruído a arte e o principio de defesa dessas culturas milenares. Em nome do esporte um mar de corrupção e principalmente de descaracterização da arte marcial tem sido feito. Se perde o respeito pelo amigo que te ajuda a treinar. Se perde a arte da concentração, da disciplina, da educação, da hierarquia, das bases...sem elas, se perde tudo.

O UFC parece um cão mordendo a cauda. Não dá para considerar como esporte, uma prática onde o oponente caído é socado desacordado até que o juiz observe que ele perdeu os sentidos. Não dá. E como considera-lo uma arte marcial, se ninguém está ali para se defender de um assalto, de uma agressão criminosa ou muito menos de uma guerra. Isso é exaltação a violência.

Calma amigos, não fiquem com raiva de mim por essa pequena reflexão. Eu até já vi o UFC e foi então que me peguei assim...me perguntando por que estava vendo aquilo? Qual o sentido de assistir aquilo?

Armando Nogueira um dia disse: “Não posso considerar algo esporte que se feito fora do ringue da cadeia”

Ah, quer saber, vou treinar que esse mês tenho exame de faixa...

Naldinho.

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